segunda-feira, 19 de outubro de 2009

Além

Hoje, após um pombo voar na firmeza de mármore que é uma das cabeças das grandes estátuas do Campo Grande, pensei: Imagine se um dia tais seres passassem a ganhar vida?
Os anjinhos de carinhas sempre tão tristes sairiam por aí a espalhar solidão.

Os pombos, coitados, seriam devorados pelos grandes bicos da águia que vive à espreita.

E agora, tenho um companheiro. Um homem-de-rua os observa também. Todos eles têm o dobro do seu tamanho. E mesmo já cansado de enxergá-los todos os dias, sempre numa mesma posição, ainda se impressiona com tamanha imensidão.

"Como sou pequenino diante deles", pensa.

O Rei da Selva acaba de engolir a criancinha vestida de roxo. Ainda vê-se retalhos do vestidinho arroxeado pelo chão da praça.
As pequenas e lentas tartarugas carregam os anjinhos - que não podem se mexer, pois seguram fontes de luz em suas cabeças - como se fossem sua Majestade.
E lá em cima, eis o maioral. O grande caboclo com suas armas de guerra. Apesar de estar no alto, mantém sempre a cabeça baixa, como se quisesse dizer "Não sou mejor que vocês, e nem serei. Busco somente justicia."

Pessoas passam por aqui sempre risonhas. Sempre no horário em que o Sol queima e deixa a praça mais vistosa. Mas nenhuma percebe que a estrutura, apesar de velha, parece intacta. E os pássaros a embelezam ainda mais, mesmo deixando seus restos nos cantos.

Oh, se tão somente olhassem para os lados e prestassem atenção.

Oh, índio, se não tivesses estes prédios ao redor de ti, serias um poço de mistérios.

Isso aqui é Bahia!




Estátuas do Séc. MDCCCLXXXXV, Salvador, Bahia.

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