terça-feira, 5 de maio de 2009


O que fazer? Caminho nesta praia desde a manhãzinha, o céu está mudando de cor numa rapidez...
Já é quase noite e eu não sei o que fazer. Sinto que todos estes grãoszinhos de areia prendem meus pés. Eles não me deixam ir. O mar também contribui pra isso. O sal preenche todo este vazio dentro de mim. Acho que estou fraca...e cansada. O amor me enfraquece. Dói amar o inexistente.

Neste momento sentei-me num montinho de areia. Daqui admiro a bela vista. Vejo também um pássaro que me encanta a cada segundo que bate as suas asas. Ele tem a cor e o brilho das estrelas. Tem a mesma beleza que os raios de sol no final da tardezinha. Por isso, pra mim, ele é mágico! Penso em capturá-lo, colocá-lo numa gaiola feita de madeira crua, e pendurá-lo no tão inócuo teto do meu quarto. Ele, com o seu canto limpo, vivo e doce, preencheria o vazio tão imenso que habita o meu interior. Quem sabe assim eu tenha um bom motivo pra acordar todas as manhãs.

Agora, um outro pássaro aproximou-se de mim. Está bem aqui ao meu lado. Tão bonito quanto o outro. Mas este era diferente. Este me encarava. Sorrindo, falei "porque me olhas tanto, senhor pássaro?". Assustei-me quando escutei a resposta: "gosto de admirar-te. ver o quanto és bela! sempre que vens aqui, me rendo à tua beleza. só te peço que não chores. não chores ao vir aqui, minha menina!". Espantada, mas feliz por encontrar alguém que realmente se importava comigo, eu lhe disse: "como não chorar? como, se não há ninguém que ouve as minhas preces, que sabe o quanto eu choro por saber que encontro-me sozinha? que me abraça, ou me diz 'eu te amo', mesmo que estas palavras sejam cuspidas? como se só conheço o amargo da vida? se o doce nunca me veio aos lábios?!" Em resposta, ouvi: "Há um jeito de ser diferente! Por acompanhar-te e ver que és uma senhorinha de olhos, palavras e alma doces, serei breve. Já que tuas lágrimas rolam todos os dias, e não és feliz aqui neste mundo, convido-te para viver conosco. Lá entre as nuvens. Poderás admirar o nascer e o morrer do Sol. Contemplarás a Lua. E terás prazer em acordar para um novo dia, já que a cada manhã, um de nós fará um canto novo perto dos teus ouvidos. Assim, acordarás sorrindo. Somente chorarás de alegria. E terá prazer em fazê-lo."

Como recusar? Não pensei duas vezes. Não há mais nada a se fazer neste mundo. "Decidi-me! Irei convosco." Subitamente, minhas duas mãos foram amarradas por vários fioszinhos cor-de-ouro. Cada pássaro segurava com a pontinha do bico os fios envoltos nas minhas mãos. E de repente, parecia mágica. Era mágica! Lá estava eu, suspensa sob um oceano infinito. Subindo cada vez mais...indo mais além.

2 comentários:

  1. "Dói amar o inexistente."

    Denso e bonito. É o que tenho para dizer sobre seu texto, querida La! :D

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  2. eu fiquei assim sem palavras, todas as que li se aconchegaram em mim tão fundo e todas que pensei se misturaram entre elas.
    obrigada pelo comentário que me fez chegar aqui e te ler

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